Minha crônica leva a poesia até alma andrógena do humano.
Sempre surgem uns feiticeiros que resolvem mudar o curso da história a seu bel prazer, ou digamos à sua vontade dominadora. Nas 24 horas estabelecidas no calendário humano, a contagem leva em consideração o movimento do planeta neste infinito universo. Pois bem, minha escrita hoje quer fazer o mundo girar pelos labirintos dos desejos. O que tenho? Uma antiga história de contos de fada, contada de um ponto de vista, digamos, um pouco ousado; um cenário distante de cursos pre-estabelecidos, de horários e marcações humanas.
A princesa quem é? Rapunzel. O príncípe? Rapunzel.
“Um prédio. Sol escaldante. Portas cerradas. Uma voz, duas vozes. Trancou-a lá. Sem saída. Era um sequestro. Uma vingança de quem que não conhecia os desejos, apenas tinha vontades que iam e vinham. Conseguiram prender a indesejada rapunzel no quinto andar do prédio abandonado. Estava feito.
Resultado: as vontades não trazem o gozo tão esperado apenas deixam um vazio percorrendo o corpo. Queriam roubar os desejos da menina, sabiam que, se a prendessem, conseguiriam.
No quinto andar presa, rapunzel estava envolvida pelo desconhecido, o mais vibrante, o mais quente, o mais emocionante. O que fazer se estava ali sozinha e nenhum príncipe fora de época iria libertá-la ? Dias e dias derretendo e perdendo seus desejos que vinham e percorriam seu corpo pelas beiradas, mas não se fixavam. Enquanto o tempo passava, seu cabelo ganhava tamanho, cada vez mais. Seus pelos viravam florestas onde qualquer intruso se perderia em prazer, menos ela que sofria por não poder absorvê-los.
Tinha aprendido a ter vontades e saciá-las, mas elas não se comparavam aos desejos. Estes sim lhe davam medo. Pensou que enlouqueceria. Foi assim durante alguns dias, até que seus dedos começaram a deslizar pelas suas tranças que se misturavam a sua mata impenetrável até então. Aquilo sim era bom, dava-lhe um prazer mínimo, mas já era um início. Penetrações e pequenos prazeres diários.
Presa no quinto andar começou a esquecer do mundo lá de fora.Seu desejo foi ficando maior. As fantasias surgiam e explodiam a sua frente. Suas tranças? Por que não?
Usou-as ferozmente a seu favor. Não se importava mais se estava no quinto andar, havia ali um escape que a faria gozar imensamente em parceria sem disperdiçar nenhuma gota de prazer. Era a vitória sobre a prisão. Era o privilégio de uma conquista. E assim foi.
O gozo a libertou.
E as vontades? Ah estas ficaram perdidas nas horas humanas. Rapunzel agora desejava…
Foto: Ronaldo de Sousa / crônica visual